Doações de campanha pela Internet na campanha de Marina Silva
Por Caio Túlio Costa
Ainda na fase da pré-campanha, Marina Silva estava no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e foi abordada por um garoto que lhe colocou R$ 25 na mão. Ele disse que o dinheiro era para sua campanha eleitoral. Marina explicou que não poderia aceitar a contribuição porque a campanha ainda não era oficial. Mas prometeu que ele seria o primeiro doador quando sua candidatura começasse a arrecadar doações de campanha eleitoral.
Na segunda-feira, 9 de agosto de 2010, Marina Silva lançou oficialmente o sistema de arrecadação de doações de campanha eleitoral pela Internet. Ele operava em caráter de teste desde a sexta-feira. O menino Ari, cujo nome é Aristodemo Pinotti, então com 11 anos, na companhia de seu pai, André Pinotti, foi o primeiro doador oficial. O pai entrou na rede na presença dos jornalistas que acompanhavam a operação e doou os R$ 25 por meio de seu cartão de crédito.
Estreava naquele instante a doação online para um candidato a presidente – Marina Silva foi pioneira. A plataforma de arrecadação, que também cadastrava simpatizantes, voluntários e doadores, foi construída a toque de caixa durante três mesess. O objetivo era atender à demanda da arrecadação e criar um banco de dados para a candidata. Pronta para funcionar desde julho, quando estavam autorizadas doações diretas às campanhas eleitorais de acordo com o calendário eleitoral, sofreu uma série de problemas burocráticos, todos ligados aos meios de pagamentos, em especial aos cartões de crédito, que impediram a estreia no momento programado. A arrecadação só entrou em operação um mês depois, em agosto, quando as principais empresas de cartão de crédito se sentiram suficientemente seguras com o seu funcionamento. Atuou durante 58 dias apenas.
Os resultados, apesar de financeiramente tímidos, podem ser considerados extraordinários. O sistema funcionou bem e mostrou que se pode criar o hábito da captação de recursos entre pessoas físicas. De quebra, a democracia brasileira agora tem alternativa ao sistema tradicional de financiamento de candidaturas. Na campanha de Marina Silva, a arrecadação final ficou em R$ 170 527,75.
Uma projeção linear, evidentemente sujeita a erro como qualquer projeção, mostra que, se Marina Silva tivesse tido o mesmo tempo que Obama teve para arrecadar, ela teria atingido R$ 1,9 milhão em pequenas doações, uma soma considerável numa campanha que custou R$ 24,1 milhões. O detalhe é que Marina Silva arrecadou mais na internet do que Dilma Rousseff, que não divulgou o resultado final de sua arrecadação online. Informações aparecidas alguns dias antes do primeiro turno davam conta de uma arrecadação em torno de R$ 150 mil. José Serra preferiu não abrir o seu sistema de arrecadação na rede.
Funcionalidade nas estratégia de doações de campanha eleitoral na Internet
Quando se compara a maneira como se podia doar para Marina Silva com a maneira de como se podia doar para Dilma Rousseff entendem-se de imediato as razões pelas quais o sistema de doação de campanha eleitoral pela Internet de Marina Silva funcionou tão bem. Com apenas dois cliques um internauta conseguia doar qualquer quantia a partir de R$ 5 para a campanha verde. No site de Dilma, eram necessários sete cliques para finalizar a doação. O sistema era bem mais complicado, mais demorado.
Navegabilidade e usabilidade são termos que se usam na Internet para definir e construir sites de fácil navegação e facilidade para realizar operações – como a de comprar alguma coisa ou, no caso, doar para uma causa. O site de Marina Silva foi projetado e finalizado com essa preocupação, com essa obsessão.
O sistema de SRM (social relationship management) conseguiu cadastrar, entre simpatizantes, voluntários e doadores – capazes de ajudar na disseminação da mensagem da candidatura – 20.831 pessoas no pouco tempo que teve de funcionamento em sua plena capacidade: os mesmos 58 dias da arrecadação.
A estratégia de doações de campanha pela Internet na campanha de Marina Silva é um bom exemplo para quem deseja implementar essa ferramenta nas campanhas de marketing político digital nas próximas eleições.